AULA INAUGURAL 2013
REDAÇÃO /
Professora LUCIANA
Meus caros alunos,
Com muito entusiasmo inauguro o curso de
Redação 2013 do Liceu de Artes e Ofício
de São Paulo propondo-lhes uma reflexão em torno de duas tópicas - temas recorrentes na arte de
todos os tempos: o amor e a morte.
A morte, esse assunto pouco usual para o
começo de um ano letivo, está aqui em razão dos acontecimentos recentes que
chocaram toda a população do Brasil, em Santa Maria, RS. Diante da dor do outro
temos que nos colocar sempre. Mas que cada notícia dada, cada reflexão feita
sobre essa dor seja para solidarizar primeiro e transformar logo em seguida. De
nada adianta a noticia sobre uma tragédia que não traga em si o germe para a
mudança e a prevenção. Ao longo do ano, em nosso curso sobre a prática da
leitura e da escrita, gradativamente vamos preparar vocês para que sejam
capazes de se posicionar diante do que for, no dia a dia, como pessoa
consciente e atuante do seu papel cidadão, sabendo ler, compreender e intervir
por meio da palavra, essa poderosa arma.
A outra tópica, sobre o amor, é necessária
pelas razões óbvias. Bem pouco na vida se faz sem ele. É o melhor remédio
contra a dor, principalmente a da morte. É o nosso combustível diário, a força que
move o nosso desejo e alimenta a nossa vontade. E é sempre muito estimulante, e
catalizador de potencialidades, iniciar qualquer coisa que seja em nome dele,
do amor.
Posto isso, vamos aos textos e seus autores:
POR QUEM
OS SINOS DOBRAM?
Nunc lento
sonitu dicunt, morieri (*)
“Talvez aquele para quem estes sinos dobram esteja
tão mal que ele sequer sabe que dobram por ele. E talvez eu possa me achar
muito melhor do que sou, como fazem aqueles que me rodeiam, e ao ver o meu
estado podem tê-lo feito dobrar por mim, e eu nem saiba disso. (...) E quando a
Igreja enterra um homem, esta ação também me diz respeito; toda a humanidade
provém de um autor, e forma um único livro; quando um homem morre, um capítulo
não é arrancado do livro mas traduzido para uma linguagem melhor, e cada
capítulo deve ser assim traduzido; Deus emprega inúmeros tradutores; algumas
peças são traduzidas pela idade, algumas pela doença, algumas pela guerra,
algumas pela justiça, mas a mão de Deus está em cada tradução, e sua mão
reunirá outra vez todas as nossas folhas espalhadas formando a biblioteca onde
cada livro deverá permanecer aberto aos outros, da mesma maneira que, quando o
sino toca chamando para o sermão, não chama apenas o pregador, mas também toda
a congregação; nos chama a todos, e ainda mais a mim, a quem a doença pôs às
portas da morte.
Houve uma disputa e mesmo um processo (onde se
misturaram piedade e dignidade, religião e opinião) sobre qual ordem religiosa
deveria tocar primeiro chamando para as orações no início da manhã, e foi
determinado que tocaria primeiro aquela que acordou mais cedo. Se entendermos
bem a dignidade deste sino, dessas badaladas para a nossa oração da noite,
ficaríamos felizes tornando-as nossas, madrugando, nessa aplicação, que poderia
ser nossa e também sua, como de fato é. O sino toca por ele, e pelas coisas que
fez; e embora intermitente, ainda nesse minuto, como no momento em que tocou
sobre ele, ele já está unido a Deus. Quem não levanta seu olhar para o sol
quando ele nasce? Quem tira o olho de um cometa quando irrompe no céu? Quem não
presta ouvidos ao badalar de um sino, qualquer que seja o motivo dessas
badaladas? Mas quem de nós pode distraí-los daquele sino no momento em que um
pedaço de nós mesmos está passando para fora deste mundo?
Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo
homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de
terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um
promontório, ou perdido a morada de um amigo teu, ou a tua própria morada. A
morte de qualquer homem me deixa diminuído, porque na humanidade me encontro
envolvido; por isso, nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram; eles
dobram por ti.”
(Tradução
de José Carlos Ruy)
Nota do
tradutor: (*) Os sinos tocam suavemente por alguém. E me dizem: você também vai
morrer
II.
Catulo, poeta romano que viveu entre os anos de 84 e 54 antes de Cristo, apresenta uma obra poética marcada pela sofisticação e irreverência. Dono de uma sintaxe chamada de incomum, utilizava frases cortadas, repetições e versos ligeiros; utilizava, ainda no âmbito da linguagem, expressões e palavras coloquiais. Sua tradição literária está ligada aos poetas alexandrinos, em que relatava, nesse tipo de versos, seus sentimentos pessoais. Com uma poesia de amor elegante e sincera, ele foi o iniciador da lírica erótica em Roma. Sua obra é composta, ainda, de mais de cem poemas, em que uma grande parte foi dedicada à paixão que sentia por Lésbia, mulher a quem seu coração pertencia.
CATULO (85 a.C. – 54
a.C.), “Vivamos, minha
Lésbia, e amemos”
“Vivamos,
minha Lésbia, e amemos
e
as graves vozes velhas
-
todas –
valham
para nós menos que um vintém.
Os
sóis podem morrer e renascer;
Mas
nós, quando se apaga nosso fogo breve
dormimos
uma noite infinita.
Dá-me
pois mil beijos, e mais cem,
e
mil, e cem, e mil, e mil e cem.
Quando
somarmos muitas vezes mil
misturaremos
tudo até perder a conta:
que
a inveja não ponha o olho de agouro
no
assombro de uma tal soma de beijos.”
(Tradução
de Haroldo de Campos)


Professora aqui como prometido deixo o blog do meu primo:http://literaturaexposta.blogspot.com.br/ espero que goste e muito bom msm
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