CORÉIA: UM PAÍS QUE SE CHAMA
DANÇA
E a devoração brasileira da poesia do planeta,
via tradução, prossegue. Agora um ramo de flores, iluminado, vindo do “País da
Serenidade Matutina, pelas mãos doces de Yun Jung Im, estudiosa
coreano-brasileira, atualmente em Seul, de onda manda uma carta, através do
irmão me convidando para participar desta bonita festa de poemas doloridos e
ternos, densos e melancólicos.
Esta antologia (antologia”, em grego, quer dizer
escolha de flores) marca a chegada da poesia coreana entre nós, ampliando, no
ano das Olimpíadas de Seul (encontro helênico-coreano), nosso conhecimento das
artes do Extremo Oriente.
Da China, já conhecíamos várias coisas, através
das transcriações do original, por obra e graça de Haroldo de Campos ou através
de traduções de Ezra Pound, entre outros.
A poesia japonesa, através dos haikais, já é
presença na poesia brasileira desde o Modernismo.
A poesia coreana traz, a fogo, a marca do povo
que a produziu, um povo sofrido de mil guerras e mil invasões, imprensado entre
a China e o Japão, por eles invadido e oprimido. Nesse sentido, a condição
nacional do povo coreano lembra demais a situação da Polônia na Europa, nação
orgulhosa sempre espremida entre os alemães de um lado e os russos do outro.
Como os poloneses, os coreanos tiveram muito que
lutar para preservar sua personalidade nacional e seus valores culturais.
Assim como a língua polonesa foi proibida por
dominadores prusssianos e russos, a língua coreana chegou a ser proscrita pelos
invasores japoneses.
Mas, como a Polônia e o povo polonês, a Coréia e
o povo coreano sobreviveram e hoje estão presentes aqui no Brasil em
contingentes imigratórios significativos, entrando a fazer parte, a partir de
agora, deste carnaval de raças que, um dia, vai ser o povo brasileiro.
Na poesia coreana do século XX, objeto deste
livro, me chama a atenção a finura de percepção, a delicadeza de certos
registros e uma espécie de doce melancolia que impregna tudo.
E, sobretudo, a presença de um grande poeta, a
revelação do livro para mim, desde já o meu poeta coreano moderno, o boêmio e
surrealista Yi Sang, com poemas experimentais surpreendentes.
“Coreó”, o nome antigo da Coréia, significa Alta
Beleza”.
Pelo Aurélio, significa “Dança”. Feliz coincidência. E nessa dança, estamos desde já.
Paulo Leminski
(junho
de 1988)