sábado, 26 de outubro de 2013

T. S. ELIOT (1888 - 1965)




A TERRA DESOLADA

O ENTERRO DOS MORTOS (um trecho)

Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aléias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam,
nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.

(Tradução de IVAN JUNQUEIRA.)

CHARLES BUKOWSKY (1920 - 1994)



há um pássaro azul no meu peito
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te
há um pássaro azul no meu peito
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumos de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu peito
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu peito
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois, coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?

EZRA POUND (1885 - 1972)

                                                          "O mau crítico se identifica facilmente quando começa a discutir o poeta e não o poema."



CANTO 6

O que fizeste, Odisseu,
     Sabemos o que fizeste...
E que Guillaume liquidou as rendas de suas terras
(Sétimo de Poitiers, Nono de Aquitânia).
     "Tant las fotei com auzirets
     Cen e quatre vingt et veit vetz..."
A pedra é viva em minha mãe. Fartas
     colheitas no ano de minha morte...
Até que Louis desposou Eleonora
E teve (Ele, Guillaume) um filho que desposou
A Duquesa de Normandia cuja filha
Foi mulher do rei Henrique e maire del rei jove...
Navegaram até o fim do dia (Ele, Louis, com Eleonora)
E foram dar no Acre.
"Ongla, oncle" disse Arnaut,
     O tio comandava em Acre,
Que a conhecera ainda menina
     (Teseu, filho de Egeu)
E ele, Louis, não se dava bem nessa cidade,
Nem às margens do Jordão
Quando ele cavalgava até o renque de Palmeiras
Seu lenço no elmo de Saldino.
Divorciou-se dela naquele ano, ele Louis,
     divorciando-se de Aquitânia.
E naquele ano o Plantageneta a desposou
     (passando a perna em 17 pretendentes)
Et quand lo reis Lois lo entendit
     mout er fasché.
Nauphal, Vexis, Harry joven
Em usufruto para si e seus herdeiros
Terá Gisors, e Vexis, Neufchastel
Mas na falta da prole Gisors reverterá...
"Não precisa casar-se com Alix... em nome
Da santa Trindade indivisível... Ricardo nosso irmão
Não precisa casar-se com Alix, outrora pupila de seu pai... mas
Com quem escolher... pois Alix, etc...

(Tradução conjunta de AUGUSTO DE CAMPOS, DÉCIO PIGNATARI E HAROLDO DE CAMPOS)