Como dizia o Cazuza, eu também quero uma ideologia pra viver. Nesses tempos modernos, de discursos confusos ou usurpados, mesclados com ideias sublimes aqui e idiotas ali, nada mais cômodo, nada mais fácil, se já me dessem um sistema de crenças, tradições e princípios prontos e fáceis de serem usados, um sistema, claro, válido para qualquer contexto. Ah, se os meus heróis e mitos fossem sensíveis e fortes ao mesmo tempo, como Wolverine, e eu, ouvindo "Os Mutantes", teria o cabelo vermelho como o da Rita Lee e seria amiga da Vampira. Melhor, eu tingiria de vermelho ou azul ou verde e amarelo o cabelo da Vampira, que ninguém merece ficar velho antes da hora, nem morrer jovem demais antes do tempo. Qual tempo? O das ilusões achadas, dos sonhos realizados, o tempo da mudança de fato. Se for pra ter overdose, que seja de beijos! Se for pra arriscar a vida, que seja escrevendo um livro!
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...
Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...
O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Pra nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..
Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Pra viver...
Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver..
Ideologia!
Pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...
Eu quero uma ideologia que combine comigo, que, não sendo a minha cara, combine ao menos com os meus vestidos. Eu quero uma ideologia que seja dócil à minha boca como certas línguas que nunca me ensinaram, mas que já falo tão bem. Certa vez me contaram uma história que define a ideia que eu estou tentando, inutilmente, definir aqui. A mãe linguísta, pesquisando a origem espontânea de certos conceitos, perguntou à filhinha de 3 anos o que era "paquerar". E a menininha, mais do que depressa, respondeu: "... é olhar com um sorrizinho!" Se todos nós ousássemos mais definir e compreender certos conceitos como o fez essa garotinha, tudo seria mais simples e eu falaria certamente mais de poesia do que de conceitos nesses meus postos. Ou, com a Cecília Meireles, "Liberdade essa palavra,/ que o sonho humano alimenta,/ que não há ninguem que explique,/ e não há ninguem que não entenda."



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